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Medos, incertezas e ansiedade. A pandemia que afeta o mundo inteiro gera uma série de questionamentos sobre a morte de pessoas de todas as idades. Os inúmeros casos fatais retratados nos noticiários e as possíveis perdas de familiares e amigos contribuem para a formação de uma visão finita da vida, e dificultam o modo como as pessoas devem lidar com o luto.
O coronavírus tende a impactar ainda mais a saúde e o bem-estar de pessoas idosas, mesmo quando elas não estão infectadas.
De acordo com a psicóloga Juliana Bizeto*, o primeiro desafio envolve os problemas psicológicos causados pela pandemia. Ela afirma que “a pessoa teme ser infectada, transmitir a doença, vir a falecer ou mesmo perder pessoas queridas”.
Juliana lembra que, antes mesmo do coronavírus, muitos idosos já se sentiam isolados e, nesses casos, as medidas restritivas da pandemia aumentaram ainda mais o sofrimento. Ela alerta que “o avanço progressivo do tempo em isolamento pode culminar em diversas perdas físicas, sociais e cognitivas para a pessoa idosa”.
Segundo a psicóloga, alguns idosos podem aceitar doenças e os danos causados por elas, mas ao mesmo tempo podem ficar desanimados, uma vez que há poucas esperanças e que “é coisa da idade”.
Um artigo publicado pelas psicólogas Giovana Kreuz e Valeria Tinoco (2016) aponta que os idosos vivenciam a dor da perda e o luto de pessoas próximas de forma solitária. De acordo com as autoras, é importante que os idosos possam escolher participar ou não dos rituais fúnebres. “O oferecimento de um espaço de escuta aos idosos para falarem sobre suas perdas e reconhecerem seus lutos permite que essa elaboração forneça recursos para uma vida com mais qualidade”.
Em pandemias, como a do coronavírus, a ocorrência de adoecimento e óbito de pessoas próximas e do mesmo núcleo familiar aumenta. Ainda, o processo de luto torna-se mais complicado, pois familiares e amigos não recebem o ritual funerário, e não há oportunidade de serem confortados e oferecerem conforto às pessoas próximas nos seus momentos finais.
Dar más notícias, seja sobre a própria saúde da pessoa ou sobre a morte de pessoas próximas, não é fácil e, se não for feito de forma adequada, pode aumentar o sofrimento de quem as recebe.
Por esse motivo, os profissionais de saúde de vários países têm desenvolvido diferentes protocolos para comunicar tais notícias a pacientes e seus familiares, ajudando-os a lidar com o luto. No Brasil, professores e pesquisadores da UNESP – Botucatu, desenvolveram o Protocolo PACIENTE, que é adaptado à realidade brasileira. Esse protocolo consiste nas seguintes etapas:
Prepare-se para dar as informações e sanar todas as dúvidas da pessoa que receberá a notícia. Garanta também que nenhuma interrupção inesperada ocorra durante a comunicação. Outra recomendação é dar a notícia sentado na mesma altura do idoso.
Avalie quanto o paciente sabe e quanto ele quer saber: quando a notícia envolve a própria saúde da pessoa, é importante avaliar o nível de conhecimento que ela tem sobre seu diagnóstico. Da mesma forma, deve ser avaliado qual o nível de informação que a pessoa gostaria de receber nesse momento, ou se ela realmente não deseja ser informada sobre seu diagnóstico. Nesse caso, a pessoa pode indicar alguém em quem confia para receber as informações em seu nome.
Convide a pessoa para a verdade: nesta etapa, a pessoa deve ser informada da existência de más notícias. Devem ser usadas frases como: “Sinto muito, mas acredito que não tenho boas notícias”. Assim, é oferecida à pessoa a possibilidade de mudar de ideia sobre ser informada ou não. Em algumas situações, a pessoa pode ficar quieta. Essa atitude pode indicar que a pessoa precisa de mais tempo para entender e elaborar o que foi solicitado.
Ofereça informações de forma clara e honesta, tentando manter as esperanças da pessoa e, ao mesmo tempo, ser realista quanto às opções de tratamento. Não minimize a situação e escolha palavras corretas.
Depois que as informações são reveladas, a pessoa precisa de tempo para entender e reagir às más notícias. Permita que os pacientes se expressem. Use o toque como uma forma de comunicação e conforto. Esclareça as dúvidas do paciente para que ele se sinta aceito e protegido.
Garanta que ela receberá o acompanhamento médico e psicológico de que precisa. Faça um compromisso de não a abandonar, independentemente do resultado.
Planeje os cuidados a serem oferecidos e as opções de tratamento com o paciente. Inclua cuidados interdisciplinares no plano, sempre que possível. Solicite monitoramento por outros médicos que possam ajudar no controle dos sintomas.
Ainda que o protocolo PACIENTE tenha sido originalmente desenvolvido para dar más notícias a pacientes com problemas de saúde, ele pode ser adaptado para comunicar o falecimento de pessoas queridas.
*Juliana Bizeto é psicóloga pelo Instituto de Psicologia – USP/SP, mestre pelo Instituto de Psicologia – USP/SP, pós-graduada em Farmacodependências pelo Departamento de Psiquiatria – UNIFESP/SP e em Psychological First Aid na instituição de ensino John Hopkins University/USA.
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