Cuidadores de idosos

Quais as principais habilidades que um cuidador de idosos deve ter?

por Daniela Santilli
23 de abril de 2020

A profissão de cuidador de idosos é a profissão que mais cresce no Brasil, mas ainda consiste em uma área carente de qualificação profissional

Foto: Photographee.eu – Shutterstock

O que faz alguém ser um bom cuidador de idosos? O processo de envelhecimento é um tema relativamente novo na nossa sociedade, e ainda estamos passando por uma fase de adaptação do mercado. Com alta de 547%, cuidador de idoso é a profissão que mais cresce no país. Entretanto, ainda é uma área carente de qualificação profissional.

Ter as habilidades emocionais desenvolvidas é um fator importante para o trabalho no cuidado. A empatia e a paciência são duas características fundamentais para o exercício do papel de cuidador de pessoas idosas. Neste post, compartilhamos algumas dicas para desenvolvê-las continuamente:

Aprendendo a envelhecer

A perda da saúde, da independência e a finitude são assuntos assustadores e velados na maior parte dos países, e no Brasil não é diferente. Cada um de nós vai passar por essa fase de formas diferentes. Uns de acordo como viveram a vida, outros de acordo com sua fé, religião e assim por diante. Ou seja, existem inúmeras  possibilidades de envelhecer e, por este motivo, é importante ser paciente. Temos que aprender a envelhecer e entender como queremos, podemos e vamos envelhecer.

Toda pessoa idosa tem uma história e uma forma de lidar com a própria história. Muitas vezes, a pessoa idosa pode mudar de humor várias vezes ao  dia, afinal está vivendo uma parte desconhecida da vida e sabe que o fim é um só. 

Sempre se depara com alguma nova limitação, um novo medicamento ou novas reações colaterais. Ainda por cima, várias pessoas de seu círculo próximo determinam o que ela deve beber, comer e fazer. Desconhecidos também acabam tomando conta do seu poder de escolha: sua autonomia e individualidade. Isso gera na pessoa idosa ansiedade, incômodo e sensação de desrespeito. Ela quer ficar bem logo para recuperar sua autonomia, e esse é um dos motivos pelo qual devemos ser paciente com elas. 

As pessoas idosas descobrem de forma abrupta que, cada vez que se queixam, terão que ir ao médico, tomar mais remédios e obedecer novas “regras”. Daí a famosa resposta: estou ótima! (Lê-se: ninguém mais vai mandar em mim). 

Pratique o exercício da empatia: coloque-se no lugar dessa pessoa e imagine como receberia tantas informações e proibições (por melhores que sejam as intenções). Essa fase deve ser feita com muito tato e paciência. 

Paciência

Há uma fase no processo de envelhecer, em que a pessoa idosa repete diversas vezes as mesmas histórias e existem algumas explicações para tais ocorrências.

O ser humano tem vários tipos de memória. No caso da pessoa idosa, dois tipos importantes de memória podem sofrer alterações: a “memória de entrada” (de quem contou ou de como a informação chegou) e a “memória de saída” (para quem contou). 

Numa pesquisa realizada pela Rotman Research Institute, em Toronto, a pessoa idosa tem uma perda de 21% nas informações da memória de saída em relação a jovens entre 18 e 30 anos de idade, disse o coautor do estudo Nigel Gopie, cientista cognitivo, em comunicado. Isso significa que a pessoa idosa tende a esquecer para quem ela contou a história. Esse processo pode ter início por volta dos 65 anos de idade.

Outro motivo da repetição é a demência (importante saber que existem diversos tipos de demência. Alguns exemplos: demência vascular, Parkinson, senil, frontotemporal, Alzheimer, que é a mais conhecida delas, entre outras). Inicial ou não, ela causa danos à memória recente da pessoa idosa e faz com que ela conte diversas vezes as mesmas histórias. 

Outra forma para entender a repetição:

No caso de uma pessoa idosa acamada, dependente fisicamente, e bem intelectualmente, só lhe restam as lembranças para dividir com os demais. Dessa forma, tendem a contar histórias repetidas vezes, sejam elas boas e alegres, ou  duras e difíceis. 

Em alguns casos, as histórias duras e difíceis são as que precisam ser trabalhadas, perdoadas ou resolvidas. Ao repeti-las, a pessoa idosa, junto de um bom ouvinte, pode aliviar questões do passado. 

As boas e alegres são uma forma de se permitir sorrir e ser feliz, mesmo dentro de suas limitações. Reviver bons momentos em alguns casos passa a ser melhor do que pensar no futuro.

Seja qual for a razão, paciência: ninguém esquece intencionalmente.

Disposição e criatividade

Somados à paciência, é muito importante que um bom cuidador tenha também disposição e criatividade. Pessoas idosas tendem a recusar ofertas para fazer passeios, tomar banho, se alimentar e fazer exercícios. É nessa hora que o cuidador precisa ter muita disposição, criatividade e paciência. Ele vai ter de negociar cada ação que deverá ter com a pessoa idosa.

Muitas vezes, apenas ao dizer que é preciso beber água para não desidratar, o cuidador recebe como resposta: não estou com sede. Para esse caso específico, existem algumas possibilidades de ação:

  • Deixe sempre um copo de suco, água de coco ou água ao lado da pessoa idosa
  • Quando chegamos à terceira idade, é normal que não sintamos mais tanta sede e, por essa razão, achamos que não ter sede significa que não precisamos ingerir líquido. Certo? Errado. De fato, pessoas idosas sentem menos sede (processo biológico) e vão dizer: mas eu não fiz nada, não transpirei, nem levantei da cama, etc… Mas a verdade é que pessoas idosas perdem sais minerais na urina. Por isso, a importância de ingestão de líquidos ser tão solicitada pelos médicos. 
  • Tenha sempre em casa frutas tipo abacaxi, melancia, laranja, limão, maracujá e água de coco. Frutas que possam virar suco facilmente. Elas são muito mais cheirosas, saborosas e saudáveis do que sucos de caixinha, e ainda com a possibilidade da pessoa idosa poder ingerir as frutas.
  • Tenha no congelador picolé de frutas à base de água: uva, limão, etc.

Entenderam por que um cuidador deve ter disposição e criatividade? Isso vai valer para diversos momentos durante o dia a dia.

Ser discreto e atento 

A pessoa idosa demora um certo tempo para confiar em um cuidador, pois acredita que ele vá contar tudo aos filhos ou responsável. 

É importante que o cuidador saiba o que de fato deve contar aos familiares e o que pode ficar em segredo. Geralmente, a melhor forma de saber é fazendo a seguinte pergunta: 

  • Essa informação diz respeito à saúde da pessoa idosa? 
  • Coloca a saúde ou a vida dela em risco?

Se sim, ela deve contar aos responsáveis. Do contrário, pode ficar como um segredo entre os dois. 

Para saber mais

Da velhice à terceira idade: o percurso histórico das identidades atreladas ao processo de envelhecimento

A pesquisa sobre envelhecimento humano no Brasil: grupos e linhas de pesquisa

Por que pessoas velhas repetem as mesmas histórias?

Idosos com demência

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Memória dos idosos | Entrevista – Dráuzio Varella

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Plano Cuida Idoso

Sobre a autora:

Daniela Santilli

Daniela Santilli, fundadora do Plano Cuida Idoso, onde escreve e compartilha sobre cuidados, direitos e experiências com a terceira idade, formada cuidadora de idosos pela Cruz Vermelha, estudante de Gerontologia. Atua no mercado atendendo a pessoa idosa e seus familiares em casa, onde trabalha segurança, organização, afeto e reinserção social da pessoa idosa.

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