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Atenção da família e cuidados precoces ajudam a diminuir o avanço da doença
A doença do Alzheimer, assim como outras doenças relacionadas à demência, ainda é estigmatizada nos países da América Latina. É o que afirma a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). “Esse estigma pode ser semelhante ao associado a outras questões de saúde mental, centrar-se no preconceito pela idade, na falta de tratamentos médicos disponíveis e até mesmo ser atribuído a fatores como “bruxaria”, mas há muito apoio disponível em toda a Região e conversar sobre o problema pode ajudar as pessoas a viverem bem pelo maior tempo possível”. Há muitas dúvidas sobre como lidar com pessoas com Alzheimer.
Para entender melhor os sintomas, a neuropsicóloga Patrícia Soares Baltazar Bodoni* explica os principais pontos relacionados à doença.
No Brasil, a doença de Alzheimer corresponde a 50 a 60% dos casos de demência na população idosa, considerada uma doença neurológica de evolução progressiva e complexa, seu curso varia de 3 – 20 anos, com média de 10 anos (ABRAZ, 2010). Por ser uma doença crônica e progressiva, não afeta apenas o paciente, mas sim toda a dinâmica familiar, causando experiências tristes e angustiantes. Pode ser que o idoso, em determinada fase da doença, não reconheça mais o seu ente querido, causando muito sofrimento. Geralmente, são nessas horas que os parentes se dão conta de que a doença é incurável.
Nos dias de hoje, esquecer onde colocou as chaves ou o nome de uma pessoa conhecida é muito corriqueiro e normal. Porém, se você tem mais de 65 anos e tais esquecimentos tornaram-se comuns e associados com certa dificuldade em manter a atenção, identificar objetos e reconhecer fisionomias, você deve procurar atendimento especializado para esclarecer suas dúvidas ou até mesmo, se for o caso, ter um diagnóstico precoce.
O diagnóstico precoce da doença de Alzheimer facilitará seu prognóstico, pois possibilitará iniciar uma intervenção gradual e assertiva, que proporcione melhores conduções em lidar com a doença nas suas diferentes fases, bem como melhorar a qualidade de vida do doente.
Com o passar do tempo e com o avanço da doença, a família começa a sentir seus principais efeitos, ficando estressados, desanimados e tristes, pois além da memória falhar progressivamente, os idosos começam a apresentar episódios depressivos, dificuldades nas tarefas rotineiras e, em seguida, incapacidade de realizar tarefas complexas (cálculos e planejamentos), evoluindo para uma fase que afeta diretamente a linguagem (tornando-se repetitivos, com discursos empobrecidos, fragmentados e sem coerência), a intencionalidade do movimento (apraxia) e a habilidade para interpretar estímulos sensoriais (agnosias), acentuando o comprometimento da capacidade funcional, como a dificuldade para se alimentar, vestir-se e banhar-se (DSM-5, 2014). É muito comum idosos saírem para um trajeto simples e conhecido, e se perderem com facilidade, precisando cada vez mais serem monitorados.
Por isso, a principal conduta da família nessa condição é apostar no “afeto”. Pode-se entender afeto como estabelecimento de relações de carinho, respeito, dedicação, empatia e confiança a longo prazo. Lembrem-se: “eles se esquecerão das pessoas próximas, mas o amor nunca será apagado”.
Para auxiliar a família nessa condição, o primeiro passo é aceitar o diagnóstico, compreender o que é a doença e quais as mudanças que ela trará. O conhecimento e a aceitação trazem alívio para todos os envolvidos.
Há um consenso, entre os profissionais que reabilitam pacientes com doença de Alzheimer, de que idosos sem a compreensão da família, atividades cognitivas, ocupacionais, físicas e de lazer perdem mais rapidamente algumas de suas capacidades intelectuais e funcionais. Dessa forma os familiares são fundamentais para que o doente consiga ter uma boa qualidade de vida, apesar da doença de Alzheimer.
É importante que a família seja participativa em todo o processo, e que mesmo que o doente não se lembre de partes da sua vida, ele tem um passado, tem gostos, que devem ser respeitados.
Se a família sentir dificuldades em lidar e conviver com a doença, tornando-se desgastante, é fundamental buscar auxílio. Existem programas, cursos sobre os cuidados com os doentes com Alzheimer, grupos de apoio, acompanhamento psicológico para trazer conforto e soluções para alguns problemas enfrentados, evitando assim o estresse e outras psicopatologias que podem aparecer em função da condição vivida. Não dá para ficar sozinho nessa hora. É importante haver troca de informações, suporte e, principalmente, não delegar os cuidados somente a uma única pessoa.
*Dra. Patrícia Soares Baltazar Bodoni é neuropsicóloga e pós-doutoranda em Ciências da Reabilitação pela Universidade de São Paulo
Associação Brasileira de Alzheimer – Número de pacientes deve aumentar nos próximos vinte anos
American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-V). Arlington, VA: American Psychiatric Association, 2014.
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