Cuidado

O cuidado e o respeito à autonomia

por Denise Mazzaferro
18 de fevereiro de 2020

Será que o significado de autonomia muda nas diferentes fases de nossas vidas?

Foto: Anna Auza – Unsplash

Quando começamos a educar nossos filhos, uma de nossas tarefas é fazer com que eles cresçam com autonomia para que não sejam eternos dependentes dos pais. Aos poucos, vamos lhes ensinando a calçar os sapatos, a amarrar os cadarços de tênis, a comer, a atravessar a rua, a brincar: o nosso dever é que eles aprendam a ser independentes e responsáveis. Ao entrarem na adolescência, talvez comece nosso grande desafio, afinal eles clamam por autonomia e nunca temos certeza de qual é o limite.

Eles crescem, tornam-se adultos e estamos prontos a ajudá-los em qualquer situação. Mas eles são do mundo e, por mais que os ensinemos, será por meio da autonomia – do erro e do acerto – que eles aprenderão.

Porque fica tão difícil fazermos o exercício de autonomia quando chega o momento de lidarmos com nossos familiares idosos?

O que se percebe é que, para as pessoas idosas, como para a maioria das pessoas adultas, a autonomia representa fator fundamental para sua qualidade de vida e preservação da dignidade.

“A necessidade de autodeterminação, decidindo sobre as situações mais simples do cotidiano, implica um elemento importante e estruturante na qualidade de vida, pois o ser humano só é sujeito quando está livre, quando se autodetermina e toma consciência de sua liberdade. Para cuidar, é importante que o cuidador respeite o direito de decisão do sujeito cuidado. Ao considerar as múltiplas possibilidades do ser cuidado, a liberdade inerente a todo ser humano e suas singularidades, o cuidador estará respeitando a autonomia como direito social e legal”

ROSELLÓ, 2005

Em vários estudos e pesquisas envolvendo pessoas idosas que mantiveram sua autonomia, o que pode ser observado é que ser autônomo os faz sentir com a dignidade preservada. Aqueles que conseguem, afirmam que a autonomia pode ser vivenciada no cotidiano, mesmo quando há alguma dependência. Assim, no cuidado intergeracional com o idoso, deve-se, sobretudo, colaborar na sua preservação, respeitando escolhas e oportunizando a liberdade de agir, mesmo diante da dependência (FLORES et al, 2010).

Quando nos tornamos cuidadores familiares ou profissionais de pessoas idosas, não podemos deixar de nos perguntar: Como gostaríamos que fosse comigo? Isso porque, na maioria das vezes, acabamos cometendo “falhas” ao enxergamos naquele de quem cuidamos somente suas fragilidades, e nos esquecendo da riqueza de suas potencialidades.

Sobre a autora:

Denise Mazzaferro

Denise Mazzaferro é mestre em gerontologia, sócia da Angatu IDH, membra do Conselho do OLHE (Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento) e autora do livro “Longevidade – Os desafios e as oportunidades de se reinventar”.

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